A Roda dos Expostos | Crianças abandonadas na Itália, você já ouviu falar desse termo para se referir a este assunto? Não é raro nos deparamos com pesquisas que nos levam a descobrir que o Dante causa de algum cliente era EXPOSTO.
Tratam-se das crianças abandonadas à própria sorte nesse mecanismo chamado RODA DOS EXPOSTOS. A taxa de mortalidade era altíssima e aquelas mais afortunadas que sobreviviam eram quase sempre destinadas a uma situação de extrema pobreza. Nós sabemos que a POBREZA foi o maior motivador para a grande imigração italiana para o Brasil portanto não é nada raro encontrarmos antepassados que foram uma dessas milhares de crianças abandonadas.
Vamos entender?
COMO ERA NO PASSADO?
Na Roma antiga o abandono de recém-nascidos era permitido e infelizmente, muito comum. Muitos eram os motivos pelos quais crianças eram rejeitadas pelos pais: problemas econômicos criados pelo recém-nascido, presença de malformação física, resultado de violência, ou por serem fruto de incesto ou outro tipo de relacionamento ilícito.
Ao suposto pai, que não queria aceitar o filho como seu, era permitido levar o recém nascido ao pé de uma coluna (a “columna lactaria”), para que ficasse “exposto” à atenção e piedade de quem ali passava. Daí surge o nome EXPOSTO.
Muitos que passavam se comoviam com o bebê e mesmo que não pudessem adotá-lo e levá-lo para casa ofereceriam um pouco de leite para o inocente abandonado à própria sorte, por isso se chamava Coluna Lactaria!
Com o advento do cristianismo e, em particular, a partir de Constantino, esse cenário mudou e as crianças abandonadas, expostas, passaram a ser acolhidas pela comunidade e os infanticídios passaram a ser punidos com a morte do assassino. Assim nascem os primeiros orfanatos.
A primeira roda dos expostos nasceu apenas quatro séculos depois, na França.
Era um pequeno cilindro de madeira onde o recém-nascido era colocado. Uma campainha avisava que o cilindro estava girando e ali o bebe era acolhido pelas mãos amorosas do guardião de plantão que prestava os primeiros socorros.
O MECANISMO DA RODA
A Roda era um mecanismo circular e giratório, em forma de cilindro e dividido em duas partes: uma voltada para a rua e outra voltada para a casa de acolhimento; ambas as partes eram protegidas por uma escotilha. Do lado de fora, ao lado da Roda, havia um sino que servia para chamar a atenção do guardião. Havia também um orifício na parede, como uma caixa de correspondências, trancada a chave pelo lado de dentro que servia “para receber as Cartas e as doações espontâneas dos Benfeitores”.
BAIXA EXPECTATIVA DE VIDA
Naquela época, a esperança de sobrevivência para um bebê era pouco mais de 60%, para os expostos, as chances eram muito menores. As doenças mais frequentes encontradas entre as crianças abandonadas eram sarna, escabiose e outras dermatoses, verminoses, doenças pulmonares, sífilis e febres em geral.
A RODA NA ITALIA
A roda dos expostos na Itália surgiu em 1178 graças ao Papa Inocêncio III que, impressionado com os muitos cadáveres de recém nascidos que eram recolhidos pelos pescadores no Rio Tevere, quis que as crianças abandonadas fossem acolhidas no Hospital de Santo Spirito em Sassia. Este é o Hospital mais antigo da Europa. Foi construído em 727 como um albergue para alojar os peregrinos que iam à Roma visitar o túmulo de Pedro. Papa Inocêncio o reestrutura e o transforma em um hospital.
No início da segunda metade do século XIX havia cerca de 1.200 rodas em toda a Itália. O resultado foi que a cada ano cerca de 40.000 bebês eram abandonados e a cada ano cerca de 150.000 crianças menores de dez anos precisavam de cuidados e assistência.
A partir de meados de 1400, não havia um único hospital na Itália que não destinasse uma parte significativa de seus recursos ao manejo das crianças indesejadas. Precisamente nesse período a roda viveu o seu período de máximo esplendor motivada por uma profunda crise econômica global que tornou particularmente difícil a manutenção de famílias numerosas. Essas crianças eram vitimas da pobreza, de nascimentos fruto de relações extra conjugais, de prostituição, entre outros motivadores.
A igreja católica e a administração publica se encarregaram tanto da organização pratica da roda quanto aos aspectos de registros e de forma meticulosa documentou todo o processo de abandono, recepção, alocação de recursos, aleitamento, alocação em abrigos e famílias.
ESPERANÇA DE REENCONTRO
As crianças ali deixadas às vezes traziam consigo objetos que pudessem identifica-las no futuro. Por muitas vezes, aquelas mães sonhavam em um dia retornar para buscar seu filho. Esses objetos em divididos ao meio, como meia imagem de um santo, um dos brincos de um par, metade de uma medalha. A esperança era reconhecer esse bebê no futuro, juntando as duas partes desse objeto.
Essas crianças eram batizadas, a elas era dado um nome e ali começava o seu percurso de acolhimento e atenção. Era lavada, examinada, tratada e alimentada. Muitas vezes chegaram em condições muito precárias de saude.
COMO AS CRINÇAS ERAM BATIZADAS E NOMEADAS
Cada casa de acolhimento adotava um sistema para nomear e batizar essas crianças, atribuindo a elas nome e sobrenomes particulares, como Esposito, Innocente, Proietti, Trovato, Colombo, Incerti, Ignoti, Portatti, Abbandonati, Soccorsi, Lasciati, Bastardini, Casadei. Todos esses faziam referencia a condição de abandonados dessas crianças. O Sobrenome Esposito, por exemplo, é o mais difundido na Campania, que abrigou a maior e mais famosa casa de acolhimento de toda a Italia. Os descendentes dessas crianças abandonadas carregaram esse sobrenome.
Existiam outros critérios para inspiração dos nomes dados a essas crianças que estão minuciosamente registrados:
Objetos do cotidiano: Mestoli, Quaderni, Inchiostri, Tetti, Valigi
Plantas: Pioppi, Peri, Susini, Limoni
Flores: Rosai, Gelsomini, Gerani
Profissões: Artisti,Osti, Tintori, Merciai
Nomes: Adeli, Angeli, Alberti, TeodorI
Personagens Históricos: Benvenuto Napoleoni, Maria Stuarda
Critérios geográficos: Mantovani, Romani, Senesi, Tamigi, Sassarini, Asiatici, Tirolesi
Dias do mês do batismo ou do abandono (Tredici, Sedici, Quattordici
Santo do dia ou fatos religiosos Natale, Carnevali, Quaresimini
ABOLIÇÃO DA RODA
A incapacidade econômica dos orfanatos para administrar um número tão grande de crianças, a alta mortalidade infantil e a crença das autoridades de que a roda tornava muito fácil para qualquer um se livrar de uma criança, levaram à decisão de abolir a roda de crianças expostas.
A primeira província a abolir a roda na Itália foi Ferrara em 1867, depois Brescia em 1871 e todas as rodas desapareceram oficialmente em 1923 com o regulamento geral para o serviço de assistência aos expostos do primeiro governo Mussolini.
UMA HISTORIA DE SUPERAÇÃO
Apesar de serem um retrato triste da realidade social da época, muitas crianças sobreviveram, constituíram família e muitos imigraram. Curiosamente e muito por acaso, nós acabamos recebendo muitos casos de crianças orfãs que imigraram e temos em nosso currículo a alegria de termos localizados mais de 20 antepassados italianos que foram crianças expostas.
Grandes histórias de superação, ao longo de várias gerações, e que hoje permitem aos descendentes se reconectarem com suas origens e escrever um novo capítulo reconhecendo a nacionalidade italiana. São histórias lindíssimas que eu tenho orgulho de ter participado e em especial de vir aqui contar um pouco dessa parte do passado dos imigrantes italianos.
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Claudia Scarpim
Claudia Scarpim é fundadora no Nacionalitalia e tem como principal missão proporcionar aos clientes, serviços de excelência em cidadania italiana, mantendo foco permanente na agilidade, confiabilidade e precisão na prestação de serviços, sendo referência em assuntos relacionados à cidadania italiana.