Esses dias me perguntaram como eu descobri que queria morar na Itália e isso me levou numa aventura dentro dos meus próprios pensamentos, me remeteu a vários momentos da minha vida e eu comecei a refletir que a minha história pode ajudar outras pessoas.
Você está precisando de uma boa história para se animar? Está com medo? Eu também tive, e muito. Vem ler como a Itália invadiu a minha vida e como ela pode invadir também a sua!
Eu passei boa parte da vida suspirando pela Itália, me identificando com a Itália e percebendo que de alguma forma eu não estava batalhando para ir para Itália e sim para voltar para Itália.
Você já sentiu isso?
De alguma forma eu tinha uma conexão que eu, à época, não via com clareza. Eu chamava meus avós de nono e nona, tínhamos costumes familiares de italianos mas para mim, eram apenas costumes familiares e não tinham uma conexão clara com a Itália. Era apenas uma família super simples, fazendo coisas super simples. Para mim, na inocência da minha infância, isso nada tinha a ver com Itália que eu nem sabia exatamente onde ficava.
Tudo tem explicação
O tempo passou e eu fui entendendo de onde vinha essa conexão. Era do meu sangue, era do meu passado e da história de luta da minha família, tanto do lado do meu pai, quanto da minha mãe. E foi aí que eu realizei que sempre foi como se eu pertencesse à Itália. Ela fazia parte de mim tão profundamente e de forma tão natural que era difícil explicar o óbvio. Até que um dia, a Itália saiu dos guias de viagem e se tornou uma verdade absoluta para mim. Na primeira viagem, a Itália se apoderou de mim e este sentimento de pertencer tomou conta do meu coração, da minha mente e eu me vi como uma adolescente apaixonada por aquela beleza, por aquela cultura, pela língua, pelas cores, perfumes e pela comida. E foi ali que eu me rendi.
Depois dos meus 20 dias de férias estava certa que precisava morar na Itália. A idéia de viver esperando pelas próximas férias começou a me deixar super apreensiva porque eu sabia, no fundo da minha alma, que eu precisava dar um jeito de voltar e ficar na Itália para sempre.
Eu via sinais por toda a parte. Um filme rodado na Itália, uma bandeira num carro, um restaurante ao lado da minha casa. Eu passei a ouvir pessoas ao meu redor falando italiano e quando me dei conta já estava absolutamente tomada por esse sentimento. Eu pensava comigo: “mais um sinal que Deus está me mandando”.
É claro que, como a grande maioria das pessoas, eu tinha minhas lutas pessoais, eu precisava trabalhar, estava construindo uma carreira, e eu não fazia a menor idéia como começar a planejar essa transição.
Nesta altura do campeonato era algo tão impalpável para mim que eu sempre voltava ao pensamento limitante: “isso não é para mim”, “é preciso muito dinheiro”, “é preciso ter muitos contatos”, “é preciso falar italiano”, “é preciso um visto para viver na Itália”… e a vida em São Paulo seguia seu curso. Isto é, muito trabalho, muita correria, pouco dinheiro e quase nenhum tempo para vida pessoal e lazer. Esse era o cenário.
Luz no fim do túnel e a realidade da cidadania italiana no Brasil
Um dia, minha mãe reencontrou um primo que ela não via há bastante tempo e ele contou que tinha tido um filho recentemente e que o menino havia sido batizado com o nome do bisavô deles, Valentino. Entusiasmado, começou a contar a história da nossa família, que ele havia pesquisado e que essa história o levara a ser reconhecido como cidadão italiano. Minha mãe se interessou e fez várias perguntas. Mal sabia ela que aquele encontro iria mudar as nossas vidas para sempre.
Esse primo e a irmã dele nos deram todos os documentos que poderíamos precisar e nos disseram: “basta dar entrada no consulado usando a pasta familiar, o caminho é super simples e vocês serão italianas também!”. Fizemos isso, mandamos uma carta ao consulado acompanhada de um formulário e o bendito número da pasta. Aí que eu fui entender, tinha uma fila, de aproximadamente 10 anos! Bom, nosso nome estava lá e eu só pensava: na pior das hipóteses, daqui 10 anos serei italiana, até lá, vamos vivendo.
Nada poderia ser melhor que isso, eu amava a Itália e eu poderia ser Italiana e morar na Itália, bastava fazer a ligação entre meu bisavô e eu. Os documentos já estavam comigo e apenas 10 anos me separavam de realizar o sonho da minha vida. O bichinho já tinha me picado então era tudo uma questão de tempo, mas (sempre tem um mas) 10 anos me pareciam tãoooo distantes. Inconformada, fui entender que dava para otimizar este tempo fazendo o reconhecimento da nacionalidade italiana diretamente na Itália e assim fizemos. Essa história, com detalhes, contarei em um outro post.
Enfim, italiana! – mas a Itália pode esperar
Já italiana, agora era tudo uma questão de dinheiro e planejamento e assim fui trabalhando para juntar o recurso que precisava para realizar este meu sonho. Só que a vida prega peças e a minha carreira deu uma guinada fenomenal, para melhor.
Eu me reinventei no trabalho e estava verdadeiramente feliz com a minha nova posição profissional. Estava ganhando mais dinheiro do que tinha planejado, estava estudando, aplicando meus estudos ao trabalho, meu projetos foram ganhando reconhecimento, comecei a viajar bastante e a Itália foi ficando para depois… Esquecida nunca, apenas adiada. Afinal de contas, eu estava no auge profissional, como eu deixaria isso de lado? Eu largaria uma carreira no auge para recomeçar e morar na Itália, imagina…a Itália poderia esperar.
Como largar uma carreira de sucesso?
Sucesso e poder seduzem, isso é um fato. Eu estava no meu máximo, reconhecida em todos os sentidos, dois empregos que me pagavam justamente. Porém eu estava exausta e me dei conta que estava trabalhando em média 15 horas por dia e dormindo em casa cerca de 2 vezes por semana, pois meu trabalho incluía viajar por todo o Brasil.
Quando chegava em casa estava tão cansada que era o tempo de tomar um banho e capotar na cama. Não tinha nem tempo e nem ânimo para nada, eu só precisava dormir. Eu nunca fui de reclamar e aos olhos de quem estava de fora, eu tinha uma vida invejável, afinal, é incrível usar a hashtag #airporlife, acumular várias milhas, estar cada dia num canto, ter uma carreira ótima, performando no nível hard. Mas por trás de tudo aquilo, tinha uma sensação que a minha vida se resumia àquela rotina, minha cabeça pensava em trabalho desde a hora que eu acordava até a hora de dormir.
Eu ansiava por férias e rezava para que a sexta-feira chegasse para eu dormir um pouco. Eu tinha dinheiro para viajar mas não tinha tempo, eu tinha um carro bacana para andar mas nunca estava em São Paulo para usá-lo. Ao usá-lo fui assaltada e achei que iria morrer!
E eu comecei a perceber que vários colegas estavam no mesmo ritmo. E comecei a realizar que tinha algo de muito errado acontecendo na minha vida.
Eu estava ilhada, estava presa dentro de uma carreira que se tornou a grande finalidade da minha vida. O trabalho, que deveria ser meio, virou fim e quando eu percebi já não havia muito mais além dele. Os poucos amigos que resistiram a esse ritmo cobravam a minha ausência constante, eu já não saía mais, e eu comecei a adoecer. Meu corpo sentiu o baque de ser uma executiva de alta performance e eu já não enxergava mais propósito naquilo que vinha fazendo.
Brasil x Itália
Ao mesmo tempo, a dolorida constatação que o meu Brasil estava numa crise moral sem precedentes, me fazia refletir todos os dias, quando é que eu conseguiria ver um horizonte de reconstrução do país onde eu nasci. Eu não enxergava. Via o quadro de injustiça social se agravar cada vez mais, via a corrupção corroendo as estruturas e instituições, via o exemplo de cima afetando cada uma das camadas da sociedade e um dia, em viagem ao Rio de Janeiro, vi várias pessoas passando ao lado de um corpo de bandido morto na rua e aquilo não as afetava.
Eu, ao contrário, parei, olhei e pensei comigo, isso não é normal. Não pode ser banal nos acostumarmos com a violência e não pode ser normal termos que trabalhar até o limite do insalubre para podermos sustentar um pouco de qualidade de vida. Não poder ser normal estarmos vivendo dentro de grandes bolhas, dentro dos condomínios, isolados, e pagando verdadeiras fortunas por estas estruturas.
Eu queria a vida simples, eu almejava não o carro bacana mas poder ir trabalhar a pé ou de transporte público, eu queria trabalhar para viver com dignidade, mas ao contrário, eu estava vivendo para trabalhar e o pior de tudo é que eu estive, durante muito tempo, achando isso normal, como parte do jogo.
Onde foi parar o sonho?
Foi aí que eu me perguntei onde raios eu havia encaixado o sonho de viver na Itália naquela minha vida e a resposta foi arrebatadora. Morar na Itália não estava encaixado em lugar algum, eu adiei, guardei numa gaveta dentro do meu coração e nunca mais abri. Constatar isso teve um efeito tão arrebatador em mim que eu me voltei para esse sonho com uma força que eu nem sabia que tinha, talvez impulsionado pelo mais primitivo instinto de preservação.
Eu queria me salvar, eu queria ter a certeza de que eu poderia lutar e realizar num lugar que me inspirasse, um lugar que me desse um alto nível de estimulação, um lugar no qual eu tivesse acesso a serviços públicos de qualidade, acesso a educação de alto nível, segurança e que o trabalho fosse meio e não fim!
Esse lugar, para mim, sempre foi a Itália e eu nunca considerei nenhum outro.
Eu adoraria ter tido acesso a um texto, um vídeo ou qualquer tipo de conteúdo que fosse uma inspiração para mim, que me desse algumas dicas de qual seria o caminho que eu deveria percorrer para começar a fazer essa transição e que me dissesse: “olha, é difícil, é mais difícil que você pode imaginar e em todos os aspectos; é emocionalmente desafiador, é financeiramente desafiador, mas siga em frente porque este turbilhão de sentimentos que você está tendo agora é normal e acontece com todas as pessoas que se preparam para mudar de país. Portanto, não tenha medo, não desista, e não deixe seu sonho de lado, ele é possível, ele é real e você é capaz de fazer isso”.
Passei por todos os sentimentos, desde culpa por abandonar o Brasil em um momento em que eu poderia contribuir, até insegurança, medo, perda, ansiedade… mas nada falou mais alto do que o sonho de voltar para as minhas origens e morar na Itália.
E eu nunca me arrependi, nem um dia sequer. É por isso que eu digo a você, não é fácil mas vale TANTO a pena. Acredite em você, não se deixe desviar do seu caminho, construa seu sonho com os pés no chão, planeje e execute com maestria. Se eu consegui, você certamente consegue! Acredite!
Espero você na Itália!
Gostou do conteúdo? Aproveite para descobrir de onde veio o seu antepassado italiano!
Arrivederci
Claudia Scarpim
Claudia Scarpim é fundadora no Nacionalitalia e tem como principal missão proporcionar aos clientes, serviços de excelência em cidadania italiana, mantendo foco permanente na agilidade, confiabilidade e precisão na prestação de serviços, sendo referência em assuntos relacionados à cidadania italiana.